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Opinião: "DEMs": provectos e espertos

 

Não se subestime o a que vem o PFL metamorfoseado em DEMs, ou seja, o partido dos democratas na denominação anti-rugas, para a mais venerável legenda do status quo brasileiro. Tem quase o nome de pílula rejuvenescedora neste período de maiorias maciças do governo, e de coalizões que não acabaram ainda de lançar a sua tarrafa. Nem se subestime, por outro lado, a sua força já nas próximas eleições municipais - já que a sigla está no poder nas duas megalópoles do país. Sobretudo, num Rio de Janeiro que irá às urnas sacramentado pelo sucesso do Pan, e a que, afinal, não faltou a Cesar Maia a decisiva cobertura federal.


Rompeu-se o balanço das clientelas do coronelismo municipal, até agora dividido entre o pefelê e o PMDB. Vindo ao governo, para ficar ao lado do PT, o partido do doutor Ulysses opta pela mudança, de vez, e sai da malha do status quo. O Brasil de todo sempre viveu das alianças de famílias, clãs e apaniguados que compunham a eterna rotação entre situacionismo e oposição, no entra e sai quase que pendular no comando das bases políticas. Começamos a sofrer o impacto do realismo do PMDB em se associar às forças de Lula, e exprimir esta virada no tecido básico da vida política brasileira.


Difícil imaginar-se que a clássica política dos últimos latifúndios eleitorais sobreviva à política de urbanização, à explosão das cidades e ao que seja a tônica do Planalto na oferta de empregos e melhoria social do país. Deu-se conta o pefelê de que perdeu o pêndulo para sobreviver no velho Brasil e negocia, de saída, com o comando, a fundo do Rio e cutaneamente de São Paulo.


Esperto, vai de saída à maquiagem da sigla. Mas não se sabe, hoje, da libido política a que apelo o nome de democratas, saineta surrada, no óbvio de todas as concordâncias, para não reclamar nenhuma identidade. Na cidade maravilhosa - a nos lembrar a memória - os democráticos são, ainda, a última sociedade carnavalesca do tempo do lança-perfume e do corso, dos DEMs de então, ao lado dos fenianos ou dos pierrôs da caverna, tudo isso antes do grande populismo que levou à explosão da Apoteose.


O partido que vestisse a camisa do status quo deveria encampar, de vez, o nome de partido conservador, sem adjetivos nem preposições. A dizer ao que veio, o pefelê sobrevive no Brasil da mudança tanto quanto dá o nome e bula ao que tem sido a sua constante, desde a ditadura e a Nova República. Nas novas polarizações que o governo Lula propõe e sidera, a oposição se vertebra para manter a sua gente. Sobretudo quando optou contra o petista e enfrentou o caráter quase plebiscitário que marcou a reeleição presidencial.


O canto do ringue está aí e o pefelê tem a constância do imobilismo que lhe dá direito a alinhar-se à briga, muito mais do que o tucanato, vivendo os equívocos da social democracia e a ambigüidade crônica num alinhar-se entre o Brasil bem e o Brasil justo. Entre provectos e muito espertos, os "ex-pefelês" sabem o que querem, mas não assumem o physique du role para fazê-lo. O Brasil contra Lula não precisa esconder a sua idade nem fantasiar-se, frente o país que tem pressa hoje, e não perde mais tempo no cravar o seu voto.


Jornal do Brasil (RJ) 4/4/2007