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A ONU contra o futuro obsoleto

 

A visita do primeiro-ministro Cameron ao Brasil permitiu, num eco preciso, a força do recado da nossa presidente na Assembleia Geral das Nações Unidas. Os pronunciamentos, aliás, em Nova Iorque, marcaram, este ano, a clara busca das diferenças nas atitudes nacionais, frente à superação, de vez, de uma globalização hegemônica.

No quadro dos BRICs, o Brasil condenou toda intervenção militar na Síria, bem como defendeu o respeito à posição iraniana no jogo de equilíbrios da região. Mas, sobretudo, logramos afirmar a dinâmica profunda do nosso desenvolvimento, apoiado maciçamente no mercado interno, e ficamos menos dependentes das políticas de favorecimento nas trocas com o exterior. Nem por outra razão estão, agora, os Estados Unidos e a Inglaterra acusando o nosso país de uma política protecionista contra o sistema clássico de trocas internacionais.

No quadro geral da conferência, Israel logrou, com todo o grafismo didático, alertar como o Irã está a pique de concluir o seu dispositivo atômico. O inédito, nestes primeiros dias, em termos de nova confrontação internacional, veio do Paraguai, ao acusar a conduta, de há século e meio, de Brasil, Argentina e Uruguai, contra a agressão de Solano Lopez, responsabilizando a Tríplice Aliança pela destruição do país, na política de terra arrasada, em resposta à invasão delirante do ditador paraguaio, disposto, então, a estender-se por toda a Bacia do Prata, em busca de uma saída marítima para o território.

A diatribe de Frederico Franco surge como revide ao insulamento que hoje, enfrenta o governo de Assunção, no seu claro descarte de toda regra de Estado de Direto, que levou  ao golpe contra a presidência Lugo. Esquece-se que a Carta paraguaia é a única que não reconhece a igualdade e o equilíbrio entre os poderes, numa aberração aos próprios princípios da modernidade, e a entremostrar esta dependência permanente do Executivo paraguaio em relação ao Congresso.

O atual ostracismo do governo golpista parece irreversível no seu enjeitamento pela Organização dos Estados Americanos. Mas é, sem dúvida, a chegada ao ponto crítico da crise econômica do primeiro mundo que, agora, se evidencia nos choques de soberania, pela possível independência da Catalunha, na Espanha. Uma aspiração secular e latente redesponta, pela alarmante taxa dos desempregos e da queda dos investimentos na região, expresso na aprovação maciça do plebiscito.

E é quadro deste anacronismo surpreendente que arrancam os próximos meses, em que a ONU aposta no avanço de uma consciência internacional, frente do mundo desenvolvido, e nos liames de acordo, em que sempre foram tão férteis, nestas décadas, a Comunidade Europeia e a OEA. A Catalunha irrompe como um precedente regressivo, que põe em causa, sobretudo, a não superação de fundo do impasse do capitalismo europeu. 

Jornal do Commercio (RJ), 8/10/2012