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O promíscuo perdão de Lugo

 

O Presidente Lugo não perde pompa nem páramo ao pedir perdão, frente à paternidade que lhe cobram os tribunais. Justifica-se, invocadas as contradições do processo histórico, e do curso da civilização, e nem faz por menos no exibirmos a sua culpa. E vai a Terêncio, o clássico romano, enquanto, "como homem", não se pode excluir de qualquer pecado. Nem se exila, no que pede o nosso entendimento e tolerência. Omporta menos à opinião pública o quebrar compromissos, e as promessas, do estado religioso, ou leigo, e sim o descaso e desamparo das mulheres e das indigitadas filiações, deixadas ao abandono ou ao silêncio. Ficariam estes lances - não fosse o escândalo - como páginas canceladas na vida do Presidente, que promete a mudança e a redenção do Paraguai.


O irmão, agora, Pompeyo Lugo, ao defendê-lo, pergunta se se poderia impedí-lo de "semear à fartura, o fruto da grande árvore, na força a sua virilidade, entre as mulheres à sua volta. Só seria de se espantar se, de fato, não tivesse filhos". E é, num desfecho solene, que a poligamia do Presidente - repete - pode ser lida "como resultados do perfil de sua cultura". O que importa, agora, diante do país, é a jura do comportamento paternal, prometido pelo Presidente, com os rebentos nascidos de "um momento de grandeza de quem queria ser amado e amar também", continua o panegírico familiar.


O Paraguai põe à prova a credibilidade do homem público, que não o mais fundo dos seus laços de homem só ganhou força, diante dos refletores da opinião pública perplexa. O que será o Lugo pai, ao lado do Lugo Presidente, e o que é, a esta altura, o público e o privado na sua vida? E como, no vício das reincidências, vamos assistir ao mesmo e repetido pedido de perdão, em que o Chefe de Estado monta o ir adiante na sua vida política? E de que laxismo anunciado se pode fazer a liderança para assegurar a mudança radical e peremptória do status quo paraguaio?


O ex-bispo beneficia-se, hoje, da mudança de estado, do clerical ao secular, e de solteiro ao da paternidade múltipla, que assumiu, não em cartório, mas adiante de toda nação. Mais grave é ter o primeiro dos paraguaios perdido, a partir de agora, toda dimensão cidadã da privacidade. Constituiu cobradora do seu foro íntimo todo o seu povo, e amarrou a sua confiabilidade às luzes do espaço público, sem retorno.


Quando volta a pedir a indulgencia pública? Como ficamos, no contar de toda esta peripércia, a sucessão de moças do trabalho pastoral, o abandono dos jovens, vivido o verão do encontro, o caminho adiante do ex-bispo, dito "estuante" de vida?


Os arrependimentos, temporões, não se acompanham do auxílio à prole, e a memória das relações de então e, hoje, a de vendedores ambulantes de inseticidas. Não se perturba o primeiro mandatário, porque mais ampla a confissão, mas lamenta o feito, maior a condescendência com o "Logucho" - a da vida particular passa hoje à do governante permissivo. O neo-pai assumido pode pedir indefinidamente perdão. E o Presidente, na promiscuidade entrevista, da permanente tolerância?


Jornal do Commercio (RJ), 1/5/2009