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O passivo oculto do situacionismo

 

As pesquisas mostram que a campanha eleitoral vem se fazendo ainda à margem do que é o maior trunfo do governo. Ou seja, do enorme lastro político dos que ganham até um salário-mínimo e que, em 34%, não sabem quem é o candidato de Lula e dizem que votarão, sem discutir, nesse nome.

 

O que estaria em causa é a baixa mobilização deste eleitorado, ainda nos primórdios da ida à televisão, e do massifIcar-se a informação eleitoral. Estes números indicam também o quanto a nítida sensação de melhoria do antigo Brasil dos "sem-nada" presume uma continuidade natural, em que a eleição se transforma quase num formalismo, mais do que no exercício de uma vontade concreta de mudar ou permanecer neste situacionismo. o Ibope é categórico no mostrar, neste potencial que ainda não se definiu, que só 10% iriam à oposição e 46% seguirão o nome que o presidente indicar.


Compreende-se o quanto o tônus da mobilização das próximas semanas irá muito mais ao toque de reunir e à chamada emocional, que ao debate de temas, de promessas ou contraponto de modelos. Da mesma forma, Duma indica a ida adiante, frontal, como o braço direito de Lula nesses resultados, e que pode acelerá-los sem perder tempo. E o ritmo desse avanço é que marca o recado de campanha, no confronto com o governo anterior.




O recado é que a continuidade passa à dimensão administrativa da agenda, descartando a dimensão política dos vaivéns iniciais do novo no situacionismo. A aceleração vai, por força, ao disparo do programa de habitação, e do saneamento, sacrificados, ainda, no desenvolvimento social de Lula, concentrado na educação e na saúde. Mas Dilma sabe o quanto é nos movimentos sociais que enfrentará o verdadeiro passo adiante de seu governo, exatamente nas próprias e mais profundas conseqüências do sucesso do Bolsa-Família e da agricultura familiar. A chegada do petismo ao poder, em vagalhão, levou os sindicatos, como expressão organizada da base do sistema, ao partido e, deste, à extrema burocratização ministerial. 




Aí está o novo funcionalismo público em que, à cada pasta, corresponde praticamente um sindicato, chegando à espantosa cartorialização da classe trabalhadora. Doutra parte, e na base vista como a da raiz comunitária da mudança, a proliferação de ONGs, a receber dinheiros públicos para tal auxílio, terminou pelo indiciamento mais clamoroso de corrupção diante dos Tribunais de Contas do país.

 

É no próprio e último denominador desta mobilização social que um governo Dilma defrontaria o MST, reforçando a continuação do acesso à terra, numa organização realmente coletiva da força de trabalho e, sobretudo, o consórcio entre a nova dinâmica da agricultura familiar e sua específica visão associativa no país emergente. Não é outra, neste aspecto, a verdadeira dimensão em que Dilma encontrará a política, no cerne mesmo da mudança, e não dos mini-xadrezes, de comporem-se nos seus cargos os ditos donos da vitória, como beneficiários contrafeitos da onda Lula.


Jornal do Commercio (RJ), 13/8/2010