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O diferente Brasil dos BRICs

 

Não tivemos, nestas últimas décadas, situação idêntica à dessa maioria tranquila com que a candidatura Dilma vai às urnas.Mais do que vitória de partidos, ela representa a força de uma tomada de consciência nacional, que tem como seu protagonista o “povo de Lula”. Deparamos um Brasil consciente de um voto-opção, muito mais do que uma contradança clássica entre governo e oposição do velho país de sempre. A buscar, hoje, o Planalto vitórias do situacionismo no próprio coração de São Paulo, reflete a avalanche definida nos últimos dias por todas as sondagens eleitorais.


É nessa mesma medida que o Brasil que vai às urnas consolida, frente à opinião pública mundial, um padrão democrático, merecedor hoje de crescente respeito internacional.Tal nos distingue, hoje, no quadro dos países a confrontarem as velhas hegemonias pelas novas lideranças dos BRICs. Nela dividimos um futuro, com enormes nações continentais, voltadas para seu mercado interno, e na busca de fórmulas distintas de um novo desenvolvimento sustentado. Como a China, expandimos o nosso produto interno aceleradamente nesta década, de par com a mobilidade social de populações condenadas secularmente à marginalidade.Mas hesita Pequim no caminho das liberdades democráticas, ainda num distante horizonte.Também como a Índia, deparamos a expansão do nosso PNB, mas o governo de Nova Délhi, em contraste, mantém uma sociedade rígida, no conformismo multissecular com os párias, a atingir hoje mais de 20% de sua população.Democrática, a Índia não vai ao empenho de desconcentração da riqueza, tal como o Brasil, nas premissas de nossa melhoria coletiva


A expansão econômica, de par com a mobilidade social e a democracia, compõe o trinômio que empresta ao Brasil este protagonismo emergente, já para além da velha moldura latino-americana. Ganhamos uma nova voz na expressão de conflitos internacionais, em outro destaque do que o da mera detenção de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.


A grande lição, entretanto, em que o próximo pleito ratifica a convicção democrática do “povo de Lula” é, afinal, a da concordância nacional com a renúncia do presidente a ser um novo Chávez, forçando um terceiro mandato, ou um plebiscito continuado de mantença no poder.


A vantagem de Dilma exprime o inédito dos 84% de apoio a Lula ao fim do segundo mandato. Mas, a merecerse o que está por vir, não há que se subestimar a cobrança do grande eleitor de outubro próximo. O clima do “já ganhou” pode levar a um desperdício dos primeiros meses críticos para o avanço do PAC, o desdobramento do Bolsa Família, pelos cambalachos e concessões a pseudodonos da enchente, tão anônima quanto decidida, da vitória do país que queremos.


Jornal do Brasil, 29/8/2010