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Guerra santa e subversão democrática

 

O número 2 da Al-Qaeda, al-Zawahiri, acaba de atacar o líder do Hamas por pedir um referendum sobre a posição dos palestinos quanto a estabilização da Faixa de Gaza e eventualmente a um acordo final com Israel. El Mouwal quer de fato uma virada de página, e sobretudo, de geração quanto á uma promessa de paz que há meio século desapareceu do Oriente Médio. E, significativamente, a proposta da maior liderança palestina vem acompanhada do apoio do Presidente Carter num empenho determinado, de superar a síndrome devastadora do 11 de setembro.


Não é esse o caminho presente do Salão Oval, quando o General Petraeus junto ao Congresso americano deixou clara a inviabilidade da saída americana do Iraque mesmo no próximo mandato da Casa Branca. É neste quadro que Zawahiri redobra também a ofensiva da Al-Qaeda, saindo do terrorismo utópico para convocar o Jihad contra os americanos e o atual governo de Bagdá. Não contente, quer ao mesmo levar a guerra santa explícita contra o Irão, e o apoio explícito de Ahmadinejad aos xiitas no sul do Iraque. E também é desta última semana e a fechar todo futuro de distensão à veemência de Hillary Clinton, declarando que atacará sem meias medidas o governo de Teerã, se este agredir Israel.


O novo e significativo está na perseverança do Hamas de ser hoje a força dominante de votos da Palestina, ganhando a última eleição e se propondo agora, no desarme dos jogos feitos e aparentemente sem volta, no buscar uma prospectiva de ação na área contra a coalizão de ressentimentos que termina por justificar a definitiva "civilização do medo", a partir dos mísseis da NATO hoje voltados para o Irã, a consolidar o fantasma do mundo hegemônico por sobre o da antiga "guerra fria".


O intento do referendum do Hamas levou a Al-Qaeda à primeira invocação expressa do jihad contra o perigo inesperado da democracia. E vem, nesse extraordinário 2008, no impulso da volta americana às origens da sua vocação democrática, levando a essa intenção de voto subversiva em Barack Obama, derrubando ao mesmo tempo o Salão Oval e o reacionarismo evangélico, de par com o establishment de madame Clinton e o competente receituário para o make-up do mesmo status quo. A opção Obama torna-se a herdeira desta surpresa da sociedade civil americana, farta dos seus jogos estritos de poder e das lógicas do medo.


No Oriente Médio a maioria da população palestina quer agora o passo adiante com o pleito do referendum. A proposta do Hamas soa tão intolerável quanto a democracia na "civilização do medo". Seu repúdio violento é o de um mundo que deixou a cultura da paz na virada do século no conflito sem volta entre a guerra preemptiva e a guerra santa.


Jornal do Commercio (RJ) 2/5/2008