Os primeiros prognósticos das eleições municipais mostram a sua completa desvinculação com o futuro político do País. Depara-se o esfacelamento das coligações em todo o território, e em verdadeira soma algébrica, não deixando nenhum prenúncio sobre os somatórios políticos nacionais.
Nesse mesmo quadro, o avanço evangélico, expresso no fator Russomano, em São Paulo, trabalha no vácuo das novas concentrações de força para o pleito de 2013. Mas o dado de fundo é o peso do presente situacionismo, levando aos adiamentos de cálculo sucessório de Aécio Neves, ou de Eduardo Campos, a evidenciar-se, ainda, como possível denominador ideológico e político partidário, a largo prazo, frente ao eixo petista, e da mantença de Dilma, com o apoio de 73% do eleitorado. Ao mesmo tempo, mais se alastra este contraponto entre a força direta de Lula e a do PT.
Não despontam nas formações municipais novos quadros partidários numa pressentida renovação geracional. Nem nas governanças estaduais – à exceção de Tarso Genro –, uma sucessão petista à reeleição da presidente. Nesse horizonte, o que pode emergir é a passagem concreta dos evangélicos à absoluta militância, acompanhando a proposta da Assembleia de Deus, a conquistar, desde agora, vereanças em 5.000 cidades brasileiras. De toda forma, ainda, não haveria de pensar-se em lideranças unificadas, tendo em vista as competições indisfarçáveis, nesse avanço, e sua dependência de novas concessões midiáticas. Mas a recentíssima Marcha para Jesus, em São Paulo, nada teve de um arroubo de qualquer fé, mas resultou de um planejamento cuidadoso de um pastoreio que não máscara seus propósitos, nem ambições políticas.
Na presente dinâmica frouxa, devolvida à retranca dos partidos, é de se prever que o PMDB se aproxime do Planalto, aguçando o contraste da solidão tucana do outro lado. Não há como esperar, também, fora do PDS e do PPS, um reforço das outras siglas maiores, sofrendo o PT dos mesmos conflitos internos, que não apontam a nenhum candidato de peso às futuras governanças estaduais.
De outra parte, ainda, a incrível variação de siglas na composição das vice-prefeituras municipais evidencia, sobretudo, na perspectiva de esquerda, a fermentação de partidos diminutos. Nem o PSOL, não obstante a força das suas atuais lideranças parlamentares, conseguiu avançar para uma opção realmente socialista frente ao pragmatismo petista, e, sobretudo, diante dos presságios que a crise mundial de 68 traz à manutenção do modelo capitalista para o desenvolvimento.
O PTB, por sua vez, é, talvez, a legenda que não superou, por uma verdadeira prospectiva, a síndrome do mensalão. E a permanência de Roberto Jefferson na presidência do partido empresta um quadro nostálgico para o seu programa, diante da nova dinâmica do nosso desenvolvimento.
Essa mesma que torna anacrônico, no impacto do julgamento do mensalão, qualquer tônica moralista, frente ao Brasil de Lula, suas crenças e suas esperanças. O presente sucesso de Dilma já leva, como se vê, os próprios evangélicos a só cuidar da Realpolitik, num adesismo invencível, como mandam os tempos do continuísmo do Planalto.
Jornal do Commercio (RJ), 3/8/2012