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Dilma, soberania e direitos humanos

 

As novas conquistas da política externa brasileira deparam uma interrogação: vão à conquista estrita da iniciativa internacional do país, saído das velhas dependências continentais ou das velhas servidões de periferia, -como já expresso na voz do país, no mundo árabe, ou à não interferência da Otan nas tensões de Trípoli e Damasco? Ou,
cada vez mais, o novo perfil internacional do país se associa, por sobre os problemas nacionais e de soberania, ao avanço dos direitos humanos e aos ganhos da cidadania dos ditos reclamos, já, da própria humanidade, neste começo do século XXI? As primeiras visitas internacionais de Dilma associam-se, intrinsecamente, a estes imperativos e não é sem razão que sua visita a Pequim reforçou a liberação de Ai Wawet e outros contestadores do sistema.

Esta política se faz por determinação presidencial, independentemente das mobilizações estritas da sociedade civil e dos alinhamentos fáceis, a permitir, de sua hora, as circunstâncias. Nem por outra razão Dilma deixou de receber a Prêmio Nobel de Direitos Humanos, Shirin Ebadi, ao risco de interrupção de negociações às vezes, dependente de um "olho no olho" dos gabinetes governamentais. Nesta mesma linha, e exatamente diante do nosso contencioso iraniano, quem sabe, poderemos esperar a acolhida no país de Sakineh Ashtiani, cuja condenação à morte soma, também, outra violência em matéria de direitos humanos, qual a da permanência, na lei da sharia, da lapidação dos condenados. De toda forma, atrasa-se a visita anunciada da presidente ao Irã, quando começam os sinais de tensão no âmago do fundamentalismo mais rigoroso no nosso tempo, e o conflito com Ahmadinejad pode levar a teocracia de Khamenei ainda mais à direita. O que espera o mundo, ainda, é a libertação da prisão domiciliar de Mousavi e Khatami, as expressões políticas da democracia iraniana. 
 
 
O Brasil também, desde agora, se articula para prevenir internacionalmente à nova ameaça que vai aò cerne desses direitos humanos. Impensável, há uma década, e decorrente da nova "guerra de religiões", do terrorismo e da "civilização do medo", frente ao mundo árabe. Aí está o governo inglês a pedir uma "boa" imigração e a chanceler alemã Angela Merkel a propor a destruição do multiculturalismo do futuro do seu país. O Tea Party, da mesma forma, nos EUA, pretende fazer do banimento árabe a garantia de um país puro, "liberto da infecção do Islã". Não há, talvez, maior paradoxo entre as esperanças da Carta de São Francisco, do último pós-guerra mundial, e as limitações que emergem na nova década. E não é "terceiro-mundista" a bandeira que pode levantar, hoje, o Brasil, nesta exigência da própria civilização do medo, no confronto com as polícias europeias, a aprisionar levas de africanos e árabes, por exercer o direito de um ir-e-vir indissociável, hoje, da liberdade e do bem-estar no planeta.

Jornal do Commercio (RJ), 1/7/2011