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Dilma: os olhos de ver a vitória

 

A vitória de Dilma leva já o País às visões dessa nova repartição de poder, no que a petista inclusive estende a mão aos seus adversários. De logo, vai o contraste com a posição de Serra, tartamudo no reconhecer a derrota, e ficando nos limites mínimos da correção política para felicitar a ganhadora.


De logo, também, nascemos equívocos sobre a força real deste confronto. E começam com o peso real do tucanato e do petismo nas regiões mais desenvolvidas do País, ou dos blocos para um antagonismo disciplinado, e a longo prazo. Mesmo porque nos dois estados-chave, e ao contrário do esperado pelo novo líder da oposição, Aécio,Minas manteve em favor de Dilma a mesma vantagem que São Paulo deu a Serra. E, doutra parte, foi milimétrica a vantagem do tucano no Rio Grande do Sul. Tal como maciça a vitória de Dilma em Estados-chave da composição de um novo governo, como Pernambuco, a Bahia ou o Ceará.   


Mais importante, entretanto, é a aparição de uma legítima nova força agregada ao situacionismo, qual o PSB, nessa ascendência de Eduardo Campos. O Partido Socialista Brasileiro tem, inclusive, mais governadores do que o PMDB, e é a verdadeira sentinela da bússola política de esquerda no somatório que traz ao PT.


Aquém das suas projeções iniciais, o partido de Michel Temer não emerge como o comandante do aliancismo da Presidente. E nesse horizonte dissipa-se, por sua vez, o fantasma de Marina no que foi o mosaico de dissensos particulares, nos seus 20 milhões de votos. A clara dispersão de forças tornou irreconhecível o peso da verde no resultado final da eleição.


Serra, por outro lado, deixou no baú as 280 páginas do seu programa. E não tem o referendo de pontos básicos para que seu eleitorado tivesse desde logo levantado o estandarte do confronto. Notou o país que no discurso de despedida não tenha feito qualquer menção ao seu Vice, a não dar acolhida a essa nova direita inquietante do DEM, que entra com dois governadores para dizer até onde quer ir este outro Brasil anti-Lula. Este da concentração de lucros, da não-distribuição de renda, do defunto "consenso de Washington". 


O que o segundo turno consagrou foi a opção entre duas esquerdas. As tentações neoliberais de um governo tucano não apagam a mensagem profética de Franco Montoro ou de Mario Covas, de repúdio ao Brasil das elites de sempre, e do status quo derrubado, de vez, pelo "povo de Lula".

 


Jornal do Commercio (RJ), 5/11/2010