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Depois da Obamomania

 

Os resultados da “terça-feira crítica” foram mais longe ainda, na maré de mudança que anima a opinião pública americana para as eleições de novembro próximo. O confronto Obama-Hillary jogou para o fundo do cenário o outro resultado, batendo o martelo arqui-previsto de McCain como o candidato republicano. Os jogos feitos desse lado aceleram a vontade de derrubada do sistema implantado no Salão Oval. Mas, para valer e é isso que não deixou dúvidas no discurso de terça-feira última, Obama, diante da rival, remaquiada, para ir adiante. Não se está mais na fatuidade do mero querer mudar, que marcou a Obamomania original, a ficar na forra do imaginário americano.


O dilema está cravado na área republicana, McCain não deixou dúvidas quanto a absoluta identidade com Bush. Abandonou as agendas de saída do Iraque, reiterou a necessidade de destruição dos sequazes de Saddam Hussein, e sem rebuços o intervencionismo urbe et orbi, das forças americanas. Azarão, ainda, há seis meses, McCain veio à frente, afinal, do status quo, contrastando com o pior evangelismo militar dos “neocons”, de um país instalado na nova “cultura do medo”. Não vem repetindo as posições liberais em favor do casamento gay ou contra as teses dos criacionistas, e certamente vai levar a vice algum nome desta América grossa, contra a qual se levantou a onda Obama.


O democrata, no discurso decisivo de terça em San Antonio, deixou claro que Hillary, afinal, está do mesmo lado de McCain, diante deste impulso inédito que, pela primeira vez, levou às urnas mais de metade dos eleitores americanos acostumados, quase secularmente, a forçar-se a sair de casa para votar. Não foi essa América do novo a que deu a vitória a Hillary em Ohio. Mas um eleitorado ressentido, de uma economia regional que perdeu a produtividade diante dos jogos de mercado que a Nafta abriu aos Estados Unidos, já, desde a Presidência Clinton.


Por uma vez não é o apoio de Ohio que prefigura uma consagração presidencial. Fica na contracorrente do que seja a visão de mudança que começa a desenhar Obama. Se perdeu no Estado de primado, o Senador de Illinois deparou o resultado do Texas, simetricamente dividido nas escolhas de fato, para valer do voto democrata. Foi já vítima do otimismo que acabou por deixar em casa o seu eleitorado declarado, dos grandes centros urbanos como Dallas, Houston e Austin. Deu por favas contadas a vitória do candidato, mas terão, agora, que ir às urnas, ser fiel ao discurso em San Antonio e da aposta sobre uma outra América, por sobre a comichão e o “faz de conta” da Obamomania.


A próxima ribalta mortal na Pensilvânia não conta mais com o embalo maciço dos afro-americanos que levaram as onze primeiras vitórias maciças do candidato diferente. O grosso do seu eleitorado vai a uma população branca, que repete as amostras do Texas de uma dominância masculina, de todas as idades, em favor de Obama. Nem, por outro lado, esse Estado-chave se beneficia de conglomerados étnicos, que asseguraram a votação por Madame Clinton na fronteira mexicana.


O novo nesta América de agora, como mostrou o Obama que sai do Texas, é o quanto o caminho, daqui para diante, é o da confrontação nacional prometida por McCain, sem barganhas estratégicas. E quem ganha desta vez na chapa democrata não é quem venceu em Ohio.


Jornal do Commercio (RJ) 7/3/2008