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A democracia mexicana, para ficar

 

A eleição presidencial mexicana da-nos o recado do que seja a maturidade democrática na América Latina, dentro, pode-se já dizer, de um processo irreversível, como pede o mundo da cidadania em que avança o século XXI. Marca, aí, um contraste com os vaivens das repúblicas bolivarianas e a regressão paraguaia a um pré-Estado de Direito. Marque-se, de saída, esta volta do PRI — partido já quase secular —, que assegurou a consciência política do país, o seu laicismo, inclusive a partir da contradição dialética do seu propósito de mudança: o avanço da revolução e, ao mesmo tempo, das instituições.

Mas a vitória de Pena Nieto, por outro lado, não é uma torna ao fundamentalismo, mas o anseio de fundo à identidade política mexicana, sobrepondo-se aos alvos cutâneos de situação e oposição da última década. O candidato do situacionismo ficou em quarto lugar, e o pleito refez a tragédia do eterno oposicionista López Obrador, perdendo, nas eleições anteriores, por 0,56% de votos. O avanço profundo da democracia foi o da aceitação na ampla recontagem de votos; e o reconhecimento na existência, ainda, da clássica clientela eleitoral. Evidenciaram-se as compras de voto do ganhador, mas, já com o fenômeno em clara recessão, de vez, saído das sombras dos sufrágios manipulados.

O regime se dá conta, ao mesmo tempo, das desigualdades de apoio territorial, deixando Obrador com a maciça maioria na capital, que constitui o segundo núcleo metropolitano de todo o mundo. Deparará o PRI a maior rede internacional do comércio da droga, no impacto americano do seu controle. A afirmar, de logo, a sua iniciativa, Peña não escapará do super anunciado confronto com as oligarquias, frente à super adiada reforma agrária. Mas a vitória do PRI é, sobretudo, a de uma possível emergência de um México dos BRICS, ao lado do Brasil, ameaçando, de vez, as dependências de Washington do governo Calderón. Sobretudo, ampliando a parceria continental, para além das obsoletas visões da América Latina, e, no caminho de uma globalização não hegemônica, de vez, liberada dos velhos centros e periferias, da herança colonial.

Jornal do commercio (RJ), 27/7/2012