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Democracia irrestrita e corrupção perfeita

 

Os escândalos levantados pela Operação Satiagraha já têm um saldo definitivo, qual o do teste de uma nova maturidade da democracia brasileira. Esta só avança quando de fato chega-se à barra de contradições institucionais, e esta se resolvem por um passo à frente, até mesmo no desconhecido, e a bem da confiança em novos controles, sempre dentro da Carta Magna. Estamos, de vez, numa sociedade em mudança a que responde a crença na sustentabilidade do desenvolvimento, de par com o avanço do efetivo pluralismo das liberdades e da dignidade da pessoa. Estes valores são postos à prova pela nova desenvoltura da polícia, acostumada, de sempre, a se deter na ante-sala dos poderosos. Mas todo progresso paga o preço dos seus exageros, necessariamente corrigíveis.


O Brasil profundo ganhou a consciência de que não existem mais barreiras invisíveis para as investigações. As denúncias de há dois anos prosperam em trabalho, de cuidado e silêncio, enfrentando a descrença e o cinismo do país instalado. Aí estão, num cotidiano de levantamento de provas, o volume de dossiês, que levam agora às ações penais, de portento e alcance inédito, em nosso combate ao abuso do poder privado. É como se testássemos aí, no verso da violência ou que se associe. Mas, de toda forma, esse cadastro de suspeitos, que sai do limbo, demorará para chegar ao inferno, e vai, de logo, reclamar a profunda alteração das agências regulatóque arrastará por anos a sua responsabilidade penal. Não temos tradição para saber o que é de fato, nesse tráfico de influência, atentado à privacidade, espionagem ou legítimo interesse do Estado, diante do supergrupo a rias voltadas ao "negócio do século", em telefonia sem fio. Ou ao que se abre para a ANP com as concessões da Petrobras II. O Opportunity pôs em causa a negociação dos fundos de pensões, mantidos até hoje como um iceberg, escondidos no portento com que podem interferir nos complexos econômicos emergentes. O novelo das pistas abertas pela Operação Satiagraha supera as manchetes fáceis, para mostrar os riscos da perda, pelo país, do controle de um mercado que pretenda descartar o interesse nacional. Tão inquietantemente inovadoras como maquiavélicas. Mas já socializamos o incrível know how desta competência, em que um Daniel Dantas nos precaveu, em seus perigos, dos caminhos da verdadeira parceria pública e privada para que desponta o Brasil no governo Lula. do crime, a nova escala da nossa riqueza, e a entrada num plano macro da economia internacional, e seu poder sofisticado de corromper nesta "zona gris" em que o lobby esconde a sua face entre a sedução pecuniária e as ditas "relações públicas".


A complexidade das tratativas de grupos como o Opportunity só mostra o nosso desembaraço de primeiro mundo, onde ingressamos, de vez, por exemplo, no controle mundial do mercado de cerveja. Está-se diante do aranzel do dossiê Dantas, de sociedades e parcerias múltiplas em que ascendemos à globalização pela sua via noturna de jogos de influência, e condicionamentos da suprema expertise.


O mercado das telecomunicações envolve um porte de escala, e de controle, na trama entre a agência política e econômica, que arrastará por anos a sua responsabilidade penal. Não temos tradição para saber o que é de fato, nesse tráfico de influência, atentado à privacidade, espionagem ou legítimo interesse do Estado, diante do supergrupo a que se associe. Mas, de toda forma, esse cadastro de suspeitos, que sai do limbo, demorará para chegar ao inferno, e vai, de logo, reclamar a profunda alteração das agências regulatórias voltadas ao "negócio do século", em telefonia sem fio.


Ou ao que se abre para a ANP com as concessões da Petrobras II. O Opportunity pôs em causa a negociação dos fundos de pensões, mantidos até hoje como um iceberg, escondidos no portento com que podem interferir nos complexos econômicos emergentes.


O novelo das pistas abertas pela Operação Satiagraha supera as manchetes fáceis, para mostrar os riscos da perda, pelo país, do controle de um mercado que pretenda descartar o interesse nacional. Tão inquietantemente inovadoras como maquiavélicas. Mas já socializamos o incrível know how desta competência, em que um Daniel Dantas nos precaveu, em seus perigos, dos caminhos da verdadeira parceria pública e privada para que desponta o Brasil no governo Lula.


Jornal do Brasil (RJ) 6/8/2008