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Dedicação a Pernambuco

 

Fiz de minha vida uma missão: pôr-me sempre a serviço de Pernambuco e do povo pernambucano. Por mais universal que seja a vocação de cada um, como foi a de Joaquim Nabuco, é na terra em que nascemos que buscamos força, inspiração e alento. Devo a Pernambuco e ao povo pernambucano não apenas o que sou, mas tudo quanto, ao longo de minha existência, conquistei no exercício de sucessivos mandatos que sempre me foram concedidos. A esta generosidade não poderia responder senão com empenho e trabalho.

 

Podemos divergir e a divergência é prova de vitalidade política e da natureza apaixonada de nossas convicções. Somos uma parcela do povo brasileiro que nada negou ao Brasil. Aqui não se forjou apenas o sentimento da nacionalidade. Aqui fincamos as raízes do nosso amor à liberdade. Regamos com sangue de nossos mártires e heróis as virtudes cívicas de todo o nosso povo. Tenho orgulho de ser parte desta herança que Pernambuco legou ao Brasil e a ela tenho procurado ser fiel.


Agradeço aos que, sendo correligionários, me honraram com a sua amizade. Agradeço aos que, sendo adversários, me honraram com sua generosidade. E agradeço igualmente aos que, não sendo correligionários nem adversários, me honraram com a sua solidariedade. Agradeço, enfim, a Pernambuco que de forma tão eloquente, quanto imerecida, não esqueceu quem nunca o esquece.


A política não pode ser o meio da conservação, mas instrumento de transformação. A irredenção e o inconformismo pernambucanos trazem a marca da obstinação. O abolicionismo é, como no apostolado de Nabuco, a luta pela cidadania de todo o povo brasileiro e não apenas para parte dele.


O Estado brasileiro tem, necessariamente, de transformar-se numa estrutura democrática capaz de proteger os fracos, dar condições de sobrevivência com dignidade a todos e corrigir as injustiças, coibir os abusos e punir os excessos.


Não pratico a política como um mero exercício ou simples desfrute do poder, que é a forma mais mesquinha de exercê-la. Entendo-a e a pratico como a possibilidade de transformar o poder para fazer dele um instrumento de justiça, de igualdade e de bem-estar coletivo.


Aprecio a firmeza das convicções. E como acredito no poder das ideias, sempre defendi o princípio de que as convicções não são empecilho para o entendimento e a conciliação. Na ausência destas condições a prática da política se transforma no exercício estéril do confronto, da denúncia e do impasse.


Se ao cabo de todos esses anos tivesse que tirar de minha própria vida como homem público alguma conclusão que pudesse ser útil aos que nela se iniciam daria apenas um conselho: devemos buscar sempre, entre o que nos separa, aquilo que pode nos unir, porque, se queremos viver juntos na divergência, que é princípio vital da democracia, estamos condenados a nos entender.


Os momentos solenes também se prestam para a reflexão. O Brasil conseguiu superar o mais difícil de todos os desafios: vencer a espiral inflacionária e os riscos da hiperinflação. Mas, para dar sustentação às medidas em vigor é indispensável redesenhar, reconstruir o Estado, concebê-lo para enfrentar os desafios da competição internacional e para permitir a mudança estrutural, que todos sempre reclamamos, do modelo econômico.


O Brasil não se modernizará apenas com reformas econômicas, nem progredirá somente com mudanças sociais. O processo de transformação do País passa, sobretudo, pelas reformas políticas.


A democracia, sabemos, é o regime político que deve se caracterizar pela contínua capacidade de dar resposta às preferências de seus cidadãos, considerados politicamente iguais. São esses os requisitos que ainda nos faltam, porque poucas vezes houve no Brasil compatibilidade entre discurso e ação política.Se formos capazes de renunciar ao imobilismo, seremos também capazes de ampliar os horizontes brasileiros. Sempre se diz que a política é a arte do possível e desejável, por ser a arte de materializar o que é aparentemente impossível.


Jornal do Commercio (PE), 7/10/2010