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Construção da paz e realpolitik

 

A pergunta sobre política externa dirigida por Serra a Dilma, no último debate televisivo, inquieta quanto à estreiteza da visão tucana do nosso País lá fora. Não há que extremar um repúdio a Lula pela retórica de aproximação com o Irã, frente aos objetivos, a largo prazo, do nosso horizonte internacional. Trata-se, sim, da mais clara realpolitik, e é dela que, por paradoxo, exatamente se alcança um novo conceito de paz para os nossos dias. Aliás, não foi em outra dimensão que Dilma respondeu a Serra, precisando o quanto superfra-ses, ou meias palavras, valem sempre para reabrir o clima de debate e diálogo, indispensáveis à quebra do mundo das hegemonias e seus preconceitos.  


O conflito à nossa frente é tanto o de um perigo de armamento nuclear de Teerã, quanto da eventualidade de agressões com a superarm a por Israel, nesse jogo potencialmente explosivo de todo o Oriente Médio. O que está em causa, sim, e já, é essa nova dimensão internacional que deixa o nosso País com voz autônoma no cenário dos nossos dias. E tal, a favor da ampliação da audiência internacional que se fechara ao diálogo com o Irã e numa visão unilateral dos choques e contrachoques do Oriente Médio.


O Brasil dos Brics se alinha na busca de novos pontos de vista sobre o futuro, saídos da hegemonia americana, após a Guerra Fria. Deparamos um quadro que sai da polarização centro-periferia, e começa a se acomodar com a ascendência externa de nações gigantes, voltadas para seus novos mercados internos e, sobretudo, à margem das clássicas dominações ocidentais.


 A voz que Lula emprestou à causa iraniana é a mesma do suporte da Turquia, e o mundo dos Brics se descerra sem "eixos do mal" e "civilizações do medo". Mas este perigo volta pelo ânimo desta nova direita americana a partir do "Tea party", em delírios fundamentalistas capazes de exceder a guerra preemptiva do governo Bush.

 


O Brasil dos Brics ganha ascendência internacional, à margem de qualquer velho clamor por uma cadeira no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Seria hoje obsoleto voltarmos à aspiração do começo da era Lula. Cresceu a nação à escala do mundo, de que hoje corre atrás a própria ONU. E, na força destas novas vozes, nosso país adianta-se à China ou à índia no respeito internacional que lhe empresta a nova melhoria coletiva junto ao respeito pela nossa democracia. O governo Dilma não é mais o de uma simples voz latino-americana. Mas a expectativa da diferença de futuro, do que nos assegurou, sem mimetismos nem subserviências, o ganho de vez do desenvolvimento sustentado.


Jornal do Commercio (RJ), 24/9/2010