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Consciência política e anarquismo

 

As manifestações em todo país, no 7 de setembro, ganharam outra dimensão, no que seja a política do "povo na praça". De saída, consolidou-se a novidade dessas convocatórias, em que o chamado pelos facebooks foge, por inteiro, da antiga dependência midiática. Deparamos um poder de mobilização que se espanta na sua força e, sobretudo, parte de impulsos cada vez mais anônimos e fora de qualquer liderança ostensiva, sem qualquer projeto de poder. As últimas semanas mostraram o esgotamento de reivindicações objetivas, passadas das generalidades de melhor educação, saúde ou segurança para os pleitos salariais do funcionalismo ou do emprego privado, de bombeiros, como dos próprios policiais.

O que ora prorrompe é uma manifestação crescente de anarquismo no País, num marco dos protestos que vai ao insulto dos símbolos nacionais, à queima das bandeiras, no repúdio da noção mais elementar da própria ordem pública e seu suporte.

Não se trata mais de um somatório de rejeições, tanto a indeterminação do protesto continua. Sofremos o paradoxo de que é a consolidação da ordem democrática que vai a essa cobrança e toma de consciência das deficiências do poder e ao atendimento do bem comum. O anarquismo nasce do fortalecimento da crença numa perfectibilidade intrínseca da cidadania, levando a uma crítica inexorável das deficiências de qualquer estrutura de poder. É fenômeno, já, de maturidade institucional, a tardar nos países subdesenvolvidos, nos vaivéns das suas autocracias, revides de seus situacionismos e abusos da autoridade.

Nem terão desfecho com um anúncio de melhorias do Executivo, nem com a coibição mais aguda do poder de polícia. Não temos precedentes da permanência dessa ida às ruas e do que seja uma impaciência, para ficar, passada da insatisfação com um governo às das regras do jogo do poder organizado. Nem passa essa rebeldia a estratégias de concertações ou assaltos ao regime. O que será o sucesso do anarquismo, paralelo às idas às ruas, é a emergência da radicalidade da mudança constitutiva da consciência política, a encontrar o seu "lugar ao sol", liberado do terrorismo ou da violência continuada.

Jornal do Commercio (RJ), 20/9/2013