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Cabo Verde, a nação atlântica

 

A responsabilidade da Otan pela paz mundial é hoje superada pela nova ascendência, no limiar da União Africana, de par com a Liga Árabe. A crise em todo Oriente Médio entremostra toda a riqueza de um mundo global, a partir das articulações internacionais que superam hoje o velho fixismo " geopolítico. E entre eles  avulta, sobremodo, no universo atlântico, a emergência de Cabo Verde como símbolo e ponta desses enlaces, em que a nação africana é a promessa, talvez, dos vínculos mais amplos e complexos de uma nova urdidura do espaço mundial do século XXI.
 
Cabo Verde, para além da antiga CPLP, é o eixo das relações despontantes da CDEAO e, sobretudo, da Macaronésia, no liame continental com a Mauritânia e Marrocos. Estado arquipélago padrão, como o Japão, pode, desde logo, intitular-se como nação global, como vem de relembrar o primeiro-ministro José Maria Neves, no que a integração entre as ilhas envolve também o empenho antidiáspora e o enlace desta fortíssima comunidade cultural.
 
Difícil encontrar elemento aglutinador como a língua crioula no seu transbordo oceânico, nas raízes plantadas, inclusive, nas próprias bordas norte-americanas, na força da busca do ensino
universitário. E na torna à pátria destas levas de novas gerações, a compor a crescente classe média do país. Mid Atlantic, diriam alguns, este Cabo Verde, já no pressentimento do salto para um futuro, vindo da formação específica desta inteligência, e nas novas e universais tecnologias da informação.

Mais ainda, é já na racionalização dos serviços, e no desemperro burocrático que o Estado cabo-verdiano aplica-se - salientou ainda o primeiro-ministro - às reformas dos processos decisórios, descida ao nível micro da administração pública. Dela dão conta a nova dimensão das Alfândegas, dos registros, dos notariados e hospitais.

A tarefa é primacial na oitava legislatura do governo, no quadro nítido da vocação democrática que marca o país desde o seu desponte. O Centro Internacional de Prestação de Serviços, com ênfase sobre as indústrias culturais e as finanças internacionais, se abre para o mar, para além da produção meramente pesqueira. Mais que nunca, é nesse Atlântico que a nação global cabo-verdiana encontra o Brasil de tantas similitudes.

Vivemos uma mesura de bipolaridade do crescimento urbano, em que a Praia e Santiago replicam a Rio e São Paulo, na intensa transformação citadina de nossas culturas.
Cabo Verde, nação global, emula, no mesmo impulso atlântico, a nova perspectiva brasileira entre os BRlCs, e cada vez mais desligada da América Latina, liberta da dependência clássica de centro e periferia. Ou seja, na tradicional visão hegemônica, em que os Estados Unidos definia a estabilidade pedida pela razão imperial.
 
A Macaronésia é já um exemplo destas articulações, e o enlace a distância que envolve os Estados da neomodernidade, em complexos que tornam obsoletas as velhas polaridades e as fronteiras geográficas deste universo de produção de serviços, em que Cabo Vercle não tem competidores na África ocidental, como a nação mais jovem, no último surto emancipatório do velho colonialismo.

Manteve, na sua história de sucesso, esta fidelidade pertinaz à democracia, para atentar aos percalços do desenvolvimento. Seu trunfo vai à capacitação política da nação global, sem exclusões identitárias, nem guerras de religião, nem riscos de íundamentalismos discriminatórios. O Brasil dos BRlCs é, também, o do Atlântico cabo-verdiano.

 
 Jornal do Commercio (RJ), 8/4/2011