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A Al Qaeda contra o terrorismo radical

 

A Al Qaeda acaba de declarar sua ruptura com grupos terroristas radicais atuando no Iraque e na Síria, como o Al-Nusra e o dito “Estado Muçulmano”. Deparamos com o começo da modificação do confronto sem tréguas com o Ocidente, começado por Bin Laden e hoje seguido, após tantas explosões de homens-bomba, por Ayman al Zawahiri, o médico egípcio que assumiu a liderança do movimento. É como se estivéssemos ainda sem indício de cessar-fogo, diante de um horizonte de limites na confrontação com o mundo ocidental. Os primeiros resultados desse “conservadorismo” da Al Qaeda chegam agora ao paradoxo de tirar da mira a queda de Bashar al-Assad, na Síria, frente a um caos que até os terroristas clássicos temem, com as multirrebeldias e multi-jihads que rebentam no momento em toda a área.

Desponta, por outro lado, o apoio que a Al Qaeda vem prestando à estabilização das relações da região com o Irã e a possível descontração do radicalismo terrorista. As Nações Unidas começam a se interrogar se não podem antepor às jihads reconhecimentos básicos de direitos humanos, no que Ban Ki-moon já se referiu como a necessidade de se impedir, de vez, a torna da barbárie no mundo da pós-modernidade.

Do que se sabe hoje, o radicalismo do Al-Nusra ou do “Estado Mulçumano” é o da guerra total, não poupando mulheres nem crianças dos confrontos sucessivos, na busca de uma destruição exponencial, como se vê em quarteirões de Bagdad. As últimas declarações de Obama assentam o fato definitivo da retirada, este ano, do resto das tropas americanas do Iraque, mas, sobretudo, do Afeganistão. E nesse mesmo horizonte retoma-se a erupção possível dos talibãs em nova frente de radicalidade, contra a qual o governo de Kabul exasperará o conservadorismo armado do presente status quo.

Toda a aposta de Obama é no reforço do atual presidente, mas não resta dúvida de que eventuais tornas do republicanismo em Washington serão a do pior fundamentalismo americano e do recrudescimento das políticas de hegemonia militar dos espectros do governo Bush, derrubados pelos democratas. E, nesse cenário de horror, a possível brecha contra a catástrofe ainda pode ser buscada no surpreendente repúdio a toda coalizão terrorista. A visão a longo prazo do que seria o confronto com o Al Nusra e o “Estado Mulçumano” pode, para alguns visionários do pacifismo, se transformar, até, numa coexistência das diferenças culturais, num mundo de globalizações não hegemônicas, chegando à trégua da “guerra das religiões”.

Jornal do Commercio (RJ), 14/2/2014