Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Acelerar o velocímetro

Acelerar o velocímetro

 

A nova presidência implica os balanços do governo Lula e seus antecedentes na responsabilidade final pelo arranco definitivo de nosso desenvolvimento sustentado e, de logo, a réplica póstuma dos tucanos. Teria sido possível o êxito atual sem o Plano Real, e até onde o Bolsa-Família antecedeu o governo petista? Ou, de fato, quando começaram a desconcentração da renda e o sucesso da expansão econômica, com o enriquecimento geral do país ou, sobretudo, com a saída da marginalidade de 30 milhões de brasileiros?
 
A tinta da história recente não pode ainda carimbar os créditos finais desse país que cresceu a 7,5% do PNB em 2010 e pode contar com 56% da sua população na classe média. Em contraste com a melancólica despedida de FH, Lula goza destes inéditos 86% de apoio ao deixar o Planalto. E o PSDB para ir adiante não escapa do epitáfio de uma refundação. Recolher os cacos do capitalismo liberal, reformular o papel do Estado na infraestrutura do país, blindar-se à mobilidade coletiva e ao acesso direto aos serviços na educação e saúde, mesmo antes da carteira assinada de trabalho.
 
A proclamada falta de impacto do governo Dilma vem do esperado "mais do mesmo", ou da percepção crescente, a cada dia, das melhoras do governo que lhe antecedeu. Mas não é o continuísmo inerte e, sim, o do aprestar-se o país às novas economias de escala, à absorção do pré-sal, ou o avanço do Minha Casa, Minha Vida, juntando o programa habitacional ao ensino e à saúde.

É nesses termos que a prioridade inaugural de Dilma seria de trazer-se à União a responsabilidade efetiva pela política social da mudança, hoje deixada aos estados e municípios pela presente Constituição brasileira. Muito da crítica ao PAC nasce desse emperro institucional e do vertedouro de lerdeza e corrupção que afligiu o início do projeto, nascido da Casa Civil, sob a então ministra de Lula.
 
O PAC vem na esteira do plano de metas de Juscelino, e do primeiro governo que abraçou a prioridade do desenvolvimento, que não tinha à época as disposições descentralizadoras da Lei Magna de 88. Uma emenda à Carta pode ser a primeira iniciativa de Dilma no campo do Legislativo, antecipando-se às reformas, tributária e política. Testa, por sua vez e, de logo, a maioria parlamentar e a vontade política de mudança e os pactos de poder remanescentes desse status quo.

De toda forma, o governo Lula deixa, como maior herança, o crescimento imediato do PAC, ainda na sua infância, e não precisa do clientelismo guloso do peemedebismo para acelerar o velocímetro do desenvolvimento sustentado. E seu visor se ajusta sobre o melhor do varguismo e do juscelinismo, num país que, pela eleição de Dilma, rompeu de vez com o udenotucanato e seu neoliberalismo obsoleto.

O Globo, 3/1/2011